19 de dezembro de 2011

La Prisionera [O Homem Que Não Se Quer Amar]

Quem é esse homem a frente de minhas lembranças

Por quem me apaixonei perdida e despropositadamente?

Quem é o homem que amei?

Perdeu-se de si e em meu peito

Como quem vaga na noite de mãos dadas à embriaguez

Que não oferece perdão, só torpor.


Ainda é capaz de trazer em si um pedaço genuíno de mim?

Se não, nem precisa responder. Oculte-se sorrateiramente

Lua que brilha independente da minha palidez.


Quem é esse homem que toquei de forma despudorada?

Por quem cruzei estradas, me acabei e não regressei, jamais.

Por quem deixei de ser eu mesma


Quem é o homem que desabrochou a flor da candura

E descosturou a alma que de grande, reduziu-se a pedaços,

A centímetros de linhas soltas impossíveis de tear?


Que a linha dura possa me levar ao longe

Onde as rosas são negras

Pro meu corpo murchar em paz


Que não existam pensamentos

Mas se é neles que falo

Já penso

E se penso

Esse longe não há.

26 de setembro de 2011

Dissonância do Destino.

Quando lavo e seco o rosto
E a toalha pesa
Posso agradecer a você
Pôr a culpa em mim mesmo
Pinçado do mar, num veleiro a esmo
Mesmo na incompreensão
do meu falar.

Se digo A, entende Z.
Se me mostrar, nem quer saber.
Se afirmo não, o sim é o que vai dizer.
E se o se é talvez, não vai entender.

Na dissonância do nosso discurso
Outros podem ouvir e rir?
Sentir o mesmo compasso encostado
Garante o persistir? _Diz.
Mas um mundo maior
Com problemas melhores
Do que o que não sou ou queria ser
Vai saber...

Não tenho olhos, nem vi castelos
Sou a pluma pesada que cai
Solidão é uma população.

21 de junho de 2011

Na Estação

Ao passo que a vida corre de salto

Pisando em corações e acariciando outros, todos seguem.

O ritmo quem pode dizer é quem canta

Quem embala a tua estrada enquanto você pisa

Para não dançar.

Mas a menina já dançou.

Já expressou o sentir latente

Do corpo maior e sobre

Do partir do humano que por último, saltou.


- O trem pode seguir sem direção?

Ela ainda pergunta-se enquanto aguarda na estação

O bilhete que já esgotou.

A menina espera...


De mim, posso dizer que só aceitava a possibilidade

de ter você com exclusividade dessa vez

O que era meu, era só meu ou nosso. Ponto.

Mas como mentira, frágil e de vidro, espatifou-se

E finalmente pude ver, da forma mais clara e arrogante,

que meu, você já não era há um pedaço de século atrás.


Ela esperou, bebeu água de mar, sentou e adormeceu.

O sonho que poderia ter sido, não foi bom.

Ela despertou e percebeu que o bilhete ainda não havia chegado.

A tolice pode ser optar por crer no que se pensa

Ao invés do que está escrito e assinado em tuas mãos.


Fomos pra casa.

As nuvens mostram-se.

E o frio é apenas um estado que se permite sentir.

13 de junho de 2011

Já Nem Sabe Mais do Amargor.

Pedir para cuidar bem pode até ser demais

Quando nota-se que o amor não é tão grande assim

Querer o colo ocupado de alguém

Não é possível, amor, quando o amor não é tão grande assim.


A espaçosa lacuna que preenche o teu peito agora...

Quem manda ser tão extravagante e gostar do William

E ter saboreado o palco e não ter carreira?

Não adianta querer ser a primeira no pensamento

Pois quando só é o contrário, o amor não mais cresceu.


Não ter ouvidos prontos para as novidades fora dos toca-discos

Gostar do repetitivo, não ter um metal no nariz, ou nos lábios...

Tua perdição já está concretizada. Correr não adianta.


Você já nasceu com essa pele, cor e neurônios

Optou por movimentos e cenas que perguntam: “Para quê saber?”

Perdeu os cabelos que cultivei, não me acompanhou na carona que peguei,

no estar só, no me encantei por outras coisas de que são feitas relacionamentos.


Por ser só a menininha sem dor, artista de um mundo autista

Que nem sabe existir, sinto, mas o amor não é tão grande assim.

E a pequena partícula tua mergulhada, talvez evaporada esteja

Ou ressurja. Vai saber, ou não saiba, amor.

11 de junho de 2011

Ela [que quer ser atingível ou uma flor]

Sentou lá pra esperar

Uma parte, como a letra escarlate que você gravou

Um inteiro, no jeito obtuso que se auto-alcunhou

E que prontamente, ela renegou.


Olha-se para os dois lados

E a companheira solidão é bem-vinda

Porque ela se conforma com os devaneios acordados

Que pincelam ainda mais de cinza a atmosfera

Que uma outra sugou.


Tempo sufocante com cheiro de flor

Em meio à selva há sempre o frescor

E não só o medo.


Ainda sentada, os lábios róseos sussurram

Em um tom quase leve que só ouvem os objetos

próximos as portas lacrimosas e quase cerradas:

“Estive correndo com rumo, sem roupas

Sem as armaduras que outrora me vesti

Sigo despida, meu amor

Deito-me para que quem sabe, meu corpo vire flor

E tua chuva pouse, que seja uma gota ou toda ela, por aqui

Ou escolho não crescer.

Não há caminhar longe de você. Se ando,

É acreditando que um dia me seguirá,

Passeará pela estrada, que não mais uma BR quer ser.

Quer ser caminho, como dito flor, e não mais uma ponta.

Se vou, é pra te ver voltar.”


E nas palavras finais, ela diz assim:

“Queria ser mais. Um tudo e o melhor, se é possível.

Se a perfeição é inatingível, desminto então.

Quero ser um ser, tangível, uma mulher

Pra que suas mãos possam me tocar.

Que eu seja o nada, então, não tenho medo.

Se o nada for o que você deseja

Do fundo do oceano dos poros

Do barco que é o seu coração,

possa afundar em mim por vontade?”


Levantou-se.

Ao redor o mundo gris, modificou-se.

Ninguém apareceu. Seguiu em frente


Para que ele pudesse interrompê-la.

21 de fevereiro de 2011

Pedacinho de Ode ao Dançar.

Uma vibração sob os pés
no interior dos ouvidos, um som
É o suficiente para o meu corpo
passear em um percurso sinuoso
propondo signos, seguindo o ritmo
Que a ditadora caixa propõe.

Requebra-se quando é para quebrar
Faz-se uma pirueta quando é para girar
Se é pino, Pina
Se é cuca, Colker
Se é peneira, Pederneiras.

Apenas deixe-se levar
pelo vento, canção é pés
Dancè.

16 de fevereiro de 2011

Sentir, Estar Sóbrio.

Sinto, depois do absinto que bebi
Sinto, minha solidão, saudade
Sinto falta de tragar o cigarro seu
Sinto a angústia do seu não tocar
nos quadris em movimento, meus
Sinto a ausência do hálito de cândura,
da camisa divertida que você usou.

Sinto o devorar do peito pelo vazio dos seus pés,
dos lábios pela secura da sua saliva,
das mãos pela distância dos dedos seus.

Sinto o silêncio das nossas risadas,
do seu "não chore" repetido e acompanhado de carinho,
o preto e branco da pele sem o carmim que se apossou.

Sinto o destino que nos destraçou.

Sinto a espera da maternidade que nos reengendrará
Sinto a estagnação do assistir meu time só
Sinto o nó da minha cabeça que vaga a te buscar
Sinto a embriaguez pesada que se dá
pela falta da companhia que desejo, sua.

Sinto a sobriedade do desejo que não nasceu
Sinto o arrependimento pela dureza,
pela couraça, já derretida, que não permitiu o imenso valor de um amor
transbordar por minha boca e te prender com seu consentimento
na cidade nua que não possui mais encantos mil.

Sinto, sinto muito.

Sinto o tempo e o vento que me desnortearam.

Me encontre. Por aí.


14 de fevereiro de 2011

O Desmonte que Vem do Encaixe Teu.

Enquanto eu esperava a bagagem
Tudo ainda era tão normal
azul era azul, e a velocidade...
como sempre caíam as peças
ao ritmo que induzia a gravidade.

Transpor a porta foi aquele fragmento
um pedaço de momento denominado felicidade
Se eu pudesse dizer...
mas a felicidade é o engasgar
da "intradutibilidade" de um conto
em uma língua qualquer que não a sua.

A eternidade do abraço cruzado
O volume alto do fribilar de dois vermelhos que tocam-se,
pele com pele. O perceber do poro,
da cor do lábio, do olhar tão único, sua digital...

Palavras são tão frágeis
É vida que escapa em um tropeço
O amar, peço, as asas que tocaram-me
e o levaram. Espaçaram o amor do carinho
O meu inteiro da metade do teu gostar
Um abraço de amor, logo em lágrimas pode se verter
e o teu se cuida, logo transforma-se em dor.

Quando a vontade é se abandonar
Sigo adiante, como disse.
Avante, saudade, sê bem-vinda
a me desmontar.

9 de janeiro de 2011

Fugir Para o Alto, Para Lá do Céu.

O que dizer da vida,

Frágil vida decidiu partir

E nem pediu licença.

Anulou a presença do que foi, do que seria

Sentença sem fim de recorrer.


Bom. Bom tentar pensar no nascimento

Rebento do céu de duas jovens estrelinhas

Que de tão frescas, nem vê-se o brilho

E mesmo assim, faz o mundo contorcer-se

Numa breve tentativa de pegar

Ou simplesmente, acenar.

[tchau. Adeus, mocinhas cintilantes]


Despedida, dor viva do que não há

Explica por que um grão de areia

Pode evaporar-se do chão

Sem ao menos ter a chance de encoberto,

Coberto pelo afago da conchinha, perolar?


Sentimento, pressentimento, pesar

Presságio, o calar anterior...

Se uma angústia pudesse explodir

Mas ela é feita para ser engolida.

Engolir e engasgar com o ar que não ousa sair

Vil e inevitável, acidental relâmpago

Partir.

Aqui, Lá, Acolá.

Desde que o avião aterrou pelas bandas de lá

Tudo se perdeu por aqui por dentro

Lá, lá onde tudo está

Ainda há sorrisos e texturas na parede

Paixão tem acento e as mãos cálidas,

cálidas mãos ainda tem onde afagar


Aqui, aqui as fotografias brotam do chão

Os azulejos já não são azuis e sentem-se sós

As lembranças teimam em arquivar-se

Os quadros.


O espelho.


Não adianta falar que foi partido

Cada pedaço de caos, cada espuma do leito que foi teu

Grita por você. Ai!


Dentro do armário o sono não está

Não é possível encontrar

Nada aqui, aqui

Se tudo lá, lá encontrou.