9 de janeiro de 2011

Fugir Para o Alto, Para Lá do Céu.

O que dizer da vida,

Frágil vida decidiu partir

E nem pediu licença.

Anulou a presença do que foi, do que seria

Sentença sem fim de recorrer.


Bom. Bom tentar pensar no nascimento

Rebento do céu de duas jovens estrelinhas

Que de tão frescas, nem vê-se o brilho

E mesmo assim, faz o mundo contorcer-se

Numa breve tentativa de pegar

Ou simplesmente, acenar.

[tchau. Adeus, mocinhas cintilantes]


Despedida, dor viva do que não há

Explica por que um grão de areia

Pode evaporar-se do chão

Sem ao menos ter a chance de encoberto,

Coberto pelo afago da conchinha, perolar?


Sentimento, pressentimento, pesar

Presságio, o calar anterior...

Se uma angústia pudesse explodir

Mas ela é feita para ser engolida.

Engolir e engasgar com o ar que não ousa sair

Vil e inevitável, acidental relâmpago

Partir.

Aqui, Lá, Acolá.

Desde que o avião aterrou pelas bandas de lá

Tudo se perdeu por aqui por dentro

Lá, lá onde tudo está

Ainda há sorrisos e texturas na parede

Paixão tem acento e as mãos cálidas,

cálidas mãos ainda tem onde afagar


Aqui, aqui as fotografias brotam do chão

Os azulejos já não são azuis e sentem-se sós

As lembranças teimam em arquivar-se

Os quadros.


O espelho.


Não adianta falar que foi partido

Cada pedaço de caos, cada espuma do leito que foi teu

Grita por você. Ai!


Dentro do armário o sono não está

Não é possível encontrar

Nada aqui, aqui

Se tudo lá, lá encontrou.

4 de janeiro de 2011

Sobre o que Poderia Adoçar. Sobre Açúcar.

Esta é só uma escrita triste
Acerca do que não continuou
Dos dias que correm, dos comprimidos que tomei
que não me curaram de você.

A saudade é a vida concreta que tenho na memória do que não se realizou.
Com os olhos cerrados repasso toda noite
O cotidiano que não foi vivido
O sorriso da criança que ouve
O tilintar da chave de quem a engendrou
A noite acompanhada com cheiro de calor

A saudade é um mundo de cores e tinta fresca que você me borrou.
Até quem nos via nas exposições de paixão
Como meros transeuntes de nós mesmos
Via a luz que saltava do casal
O brilho da menina apaixonada por Matisse
Fruto do seu mentor; o sabor
O doce de açúcar tatuado na língua
que remédio algum fez fenecer.

A saudade é anseio conjunto que soltou das suas mãos.
Lembra do medo do destino que agregou
pudesse fazer se perder o carinho ao outro?
Não há perdão que faça o tempo voltar?
- Queridas estrelas, tragam meu compositor.
Ao redor, o universo particular
Já não jorra as gotas ilustres, nem mostra o X no alfabeto carioca
O despertador orgânico não soa nas madrugadas
O futuro é o desejo incerto do permitir.

A saudade é insensato mar que insiste em bater, em descer.
As pernas já cansadas de correr contra o tempo
Repousam e percebem o passar dos dias
Sem pausar
Quando foi que o amor desencravou as letras do meu nome de você?
Ai. Quão tolas podem ser as discussões...
Quando o assunto é o amor
Perca o tempo somente agindo em traduzi-lo
Meu travesseiro flutua nos lamentos
da boca vazia que teima em proferi-los.

A saudade é amor ferido que a distância abortou.