11 de dezembro de 2013

Baba, chuva e secreção. (a tarde)

(Aff... Gosto amargo)

O copo d’água brota e não dá jeito. Não há jeito.
Um sonho ruim nesta tarde.
Coração disparado. Suor. Melhor um banho frio.
O antibiótico arremessava-se na corrente sanguìnea.
O filme desinteressante aparecia e desaparecia na tela.
Muito cansaço.
A luta já fora perdida tantas vezes.
Império do desânimo.
Em algum momento que não saqaberia precisar, despertava.
Ia até a cozinha e lá estava você. Bêbado. Mal humor.
O fósforo na mão. Luz do fogo sem lampião.
Os troços espalhados pelo chão. Eu não.
Gostaria de fazer um chá.
Água na chaleira.
Olhos de aço.
Nenhuma novidade.
Porque a angústia, o aperto no peito, o mal estar
A boca seca. A certeza de que não se está indo bem
É antiga conhecida daquele reino.
Longínquo.
Há uns quinze mil quilômetros de água
Só os bravos atravessam.
Lembra da história daquele homem bravo que encarou o mar para retornar para casa?
Deuses, mitos, super poderes, física, matéria, química e ele.
Só.
Conseguiu retornar.

Prever a distância.
Os pés enrugados.
Marulho é excitante, mas não é mole.
Parece que no meio da reta
não foi possível não desviar e desviar.
Andaram sinuosos.

E o velho Ulisses
volta a navegar
(ainda que não seja preciso)

5 de dezembro de 2013

MUDAR DE RUMO É SÓ MUDAR DE DIREÇÃO?

(Derrota. Cansaço.
As narinas sopram pra dentro
O oxigênio penetra, dá sono
Corpo mole
Ínguas
A garganta pulsa
O ânimo não
Enquanto os olhos queimam
O suor não aparece, não basta
Como se não prestasse
Afinal, o suor da forma pura não dá conta.
Por este caminho não deu certo.
Recomeço)

Copacabana.
Cinco de dezembro de dois mil e treze.
Não sei se um trovão que parece tiro de canhão.
Ou um tiro de canhão que parece um trovão.
As ruas cheias d’água.
Morava em uma ilha.
No sétimo andar.
Outros arranhas-céu boiavam ao redor da janela.
Era Doroty. Confusa se sonho ou vida
No meio daquela semana tresloucada.
Cotovelos apoiados no parapeito da janela encharcada.
Os carros boiam.
A vertigem boia.
As virgens de olhos negros
já escorreram do grande teto
por paredes de concreto.
Também boiam.

O meu barco
Grande, repleto de tralhas dentro
Tapetes, móveis, sapos,
almofadas, desenhos, príncipes
Procura a fé
tenta seguir em sua direção
A proa dá voltas e voltas
Está cega
Consciente,
mas não pode ver nada.

27 de novembro de 2013

Retrô

E ela, de sobrenome furacão
naquele dia, naquele instante de observação
no qual as gotas deslizavam pela superfícies
e o sol insistia em achar uma pequenina brecha para mostrar-se,
sentiu um vazio de flores, bombons, surpresas e palavras bonitas.
Queria ser pétala de orquídea, já era um espinho de cacto.

19 de novembro de 2013

Mais do Mesmo (ou já não havia dito isso antes?)

Gosto de pedra
Cheiro de sal molhado
Ontem, esteve lá o ser efêmero
Daquela lua que apagou-se há
Uma primavera
Um inverno atrás
O tempo, os passos e o espaço foram
Viraram agentes da ausência
Um e outro. Um. Outro.
Saco cheio de palavras sobre isso, do cheiro que não está, da marca da arcada na pele que desapareceu, da falta de olhares invejosos, do falo que não habita, do som que não gira e não gira
O tempo.
Passos.
Espaço. Vazio.
O amor que não foi dito
Vira e desvira, mero detalhe.
Entalhe da madeira
retalhada, mas não adquirida.
apesar de exposta.

6 de outubro de 2013

Maldita.

Há causas que são perdidas e não há muito o que se fazer. Você senta e espera da pior maneira. Que seja! Esses dias, notei que a saudade tem corroído a pele, a alma, os tecidos a cada trago. Sem possibilidades de trazer descanso. De tanta sensibilidade, saudade é o nervo do dente latejante. Sinto-me exposto. E sim, o posto está perdido. Fodido em porções de limões, malvada e gelo. Sem açúcar. E aquela coisa que era a mais bonita, a mais gostosa da cidade, o excremento de toda corja de pequenas bactérias escrotas suicidou.
Precipito em me amaldiçoar e dizer palavras sem efeitos que não deveria. Só que nesse mundo, melhor o que sobra e fica por aí do que o que falta. Gera-se um buraco que desaparece em algum tempo e logo em seguida, perde-se a noção de sua existência.
Perdi a noção da minha ao virar um buraco. Sem pedras pretas. Sem tic tac. Sem sólo. Sem.
Os músicos saltam do metrô com os olhares perdidos. Abaixo a cabeça. Eles sobem as escadas. Eu, sem.

31 de janeiro de 2013

Ode à Estabilidade


Estabilidade
Estática
Estar bem
Está bem?
Equilíbrio
Sorrir fixamente
Não rugas
Face harmônica
Pseudo-harmonia
Mobilidade
Funcionalidade
Dois pontos
Parágrafo e ponto final.
- A crise é feia, mas existe.
Prisão
Silêncio
Um grito no ar
Angústia
Rojão
(...)
[um grito]

O recuperar que só a instabilidade pode trazer
A inaceitável e má educada instabilidade
Faça do meu corpo
o seu bem-vindo estar

29 de janeiro de 2013

Ciscos de Sol na janela do Conhecimento


A luz do sol
Pinceladas distintas na tela areia
Na fala rubra que apaixona e/mas
Desce por terra na mesma intensidade
Em uma capa-pele dicotômica
que nem mesmo a bomba atômica,
Entre a sua complexidade como acontecimento
Onde alguns não querem compreender
O demônio-anjo do não entender
Venerador da casca unidimensão,
Escolhem o não envolver

(Falar em desenvolver pode ser a possibilidade)

Tons de sol e chuva
Do cinza das nuvens, do entre branco e preto
O entre é o silêncio, a arte
O tom da cor, a tentativa da explicação
Do aparato científico, do conceito
Que muitas vezes, sem jeito
Coloca em visibilidade a alvura
Nas pontas dos dedos precisos
Para apanhar.

Ah, a ignorância que é a santa
É também a outra
O não ouvir como eleição sua ou do outro
É ouvir, uma escuta que pode ser cega
Sem tato, sem cheiro ou sem qualquer sentido
Dos conhecidos ou Des conhecidos
Imerso no tempo, a tempo para explicar
Porque as palavras vão e ficam e vão e ficam e vão e ficam e vão e ficam e vão e ficam e vão
No vão, em vão, um vão.
Pensar em um vão móvel chamado desejo.

12 de janeiro de 2013

Eu tropeço e não desisto [ou um livro perdido na infância]


Um café. Por receio, a garota sentou-se atrás, não só da grade, mas da porta de vidro também. A dificuldade em respirar, o gosto de fel na boca e a série de nuvens cinza que apagaram o sol, fizeram-na engolir alguns pedaços de tiramissú com uma calda que lembrava o sangue que sentia nos olhos. A cada parte que descia, não sentia doçura alguma. Lembrou-se de um livro que lera na época da escola, durante o antigo maternal, que chamava-se “Eu tropeço e não desisto”. De alguma maneira, aquela história ficou tatuada em sua memória. Havia lido e relido algumas vezes. Lembrava-se com clareza da finura do livro, da ilustração da capa – uma menina de vestido branco e avental preto com uma lata de leite na cabeça e outra nas mãos em um campo gramado, céu azul e ah! Claro. Ela estava de costas, como alguém que caminha em direção ao horizonte. Cabelos loiros.

Contava a história de uma jovem que todo dia, enquanto levava os baldes com leite para casa, tropeçava em algo que a fazia derramar o líquido no chão e retornar a casa sem nada. No início, ela chorava e era toda tristeza com a situação. Com o tempo, aprendeu a contornar os obstáculos, as pedras, e conseguiu, finalmente, chegar com o leite intacto em casa.

Parecia-lhe uma história sensacional, capaz de fazer seus pequenos olhos brilharem. Só que ela cresceu. E com olhos e idade maiores, após várias topadas e tropeçadas, solta um riso sarcástico ao lembrar de todo esse conto, diante de mais um tropeção.

A respiração ainda encontra dificuldade para fluir. O peito apertado. Um café sem açúcar pra ver se piora. Pensa nas lições que o ano lhe trouxera. A vida é um sopro, a solidão é uma faca de dois gumes, a insanidade é um estalo e o amor romântico, a que tanto tinha crença, definitivamente, não existia neste planeta que habitava.

Caminhou pelas ruas de paralelepípedo, trôpega. Única. Penetrou no metrô e sentou-se em um bar antes de ir para casa. Bebeu umas quatro doses de cachaça e, antes que pedisse a saideira, sorriu e indagou ao cara loiro de cabelos compridos no balcão: “Tem leite?”. A garota que tudo tinha foi até sua residência (tão bem cuidada por ela própria) soluçando de esquina em esquina. No leito branco, derramou-se e dormiu.

10 de janeiro de 2013

"Espera!" [ou a cirrose do amigo]


Esperar. Um gole preto. Barulho da chuva que entope os bueiros e enche os acostamentos das ruas que flertam com o mar de lama. O tempo impiedoso não para de gritar e vomitar. Está tudo calmo. O resto é brisa. Sem raio. O vir e o não vir tornam-se as únicas opções possíveis. Pensa em chocolate, hambúrguer, comida gorda, mas com muita fibra para ajudar a digerir todas aquelas informações. Quem sabe, dessa maneira a tontura não passa. Um xis foi marcado. Vir. Quando as mãos parecem ter saído do freezer e o coração dança um frevo dentro da carcaça da gente, qual é o real significado? Significado.

Ao cruzar todo aquele ferro, um abraço rápido, preocupação, lama, umidade, os lábios estão ressecados. A voz oscila. O banheiro o convida e os segundos cirandam com ela. O segundo abraço. Apertado e duradouro como qualquer sofrimento. As lágrimas já não se contêm. Caem. A água é da saudade, da culpa, da tristeza. Afastam-se, mas como não havia jeito, já estão de mãos dadas outra vez. Só que longe. Mais ou menos um metro de distância. Palavras ping, palavras pong. O velho Malboro é acariciado, aceso, consumido e jogado fora.

O terceiro abraço, capaz de dizer tudo ainda que não havia sido dito. Ele finalmente, conseguia dormir em paz. Ela por sua vez, podia extravasar todas as gotas que restavam e que somente aquele coração podia compreender, mesmo com todas suas fissuras e faixas. Os anjos dizem amém. Dormem. O alarme do que é real despertam-nos. A árvore, o mar, a piscina, já não estavam lá. Nunca estiveram. Ela presenteia os olhos com as joias que mais lhe causavam dor a ausência, o par de contas negras cor de trovão. Aquela linha côncava, descendente era única e impossível de se encontrar num outro templo. A transação de pulsos pelos nervos na pelo, sob tecido e eriçar. No fim, tudo é respiração.

O quarto abraço. O quarto aperto mais difícil. É como se o padeiro pegasse um coração e o apertasse, o arremessasse sobre a tábua fria uma, duas, três, quatro vezes, na tentativa de tornar aquele futuro algo comestível em coisa macia. Apesar de saberem que estão unidos pra sempre, como as moléculas da massa, sentiam pungência na ferida-separação. Era o braço do personagem que de tanto picar-se para sentir prazer, tivera de amputá-lo. Só que esse membro permanecia ali, mexendo, coçando e até ardendo. Era a chave da máquina, a tela quebrada, o guarda-valor, tudo conferido.

A cena do filme triste. O passarinho molhado pousado no fio. Um par de tênis é calçado. Uma estrelinha amarela. Um de olhares é colocado em close. O quinto abraço da incerteza. O elevador pára. A luz no corredor. O ímpeto de segurar. A despedida. A corrida para a janela faz barulho no teto da senhora que mora embaixo. O barulho distante na porta. Cruza-se a rua como quem tem os pés voltados para trás. Não olha. Como é ofegante a espera. A lembrança da Ofélia. O oceano demoraria demais. Luz verde. Luz vermelha. Luz azul brilhante que triunfa pela avenida que abre espaço só para ela. Para eles. Queria dizer que sente falta do olhar-pássaro que havia criado por aquele tempo, mesmo que à força. Calou-se, enquanto ela desaparecia.