Esperar. Um
gole preto. Barulho da chuva que entope os bueiros e enche os acostamentos das
ruas que flertam com o mar de lama. O tempo impiedoso não para de gritar e
vomitar. Está tudo calmo. O resto é brisa. Sem raio. O vir e o não vir
tornam-se as únicas opções possíveis. Pensa em chocolate, hambúrguer, comida
gorda, mas com muita fibra para ajudar a digerir todas aquelas informações.
Quem sabe, dessa maneira a tontura não passa. Um xis foi marcado. Vir. Quando
as mãos parecem ter saído do freezer e o coração dança um frevo dentro da
carcaça da gente, qual é o real significado? Significado.
Ao cruzar
todo aquele ferro, um abraço rápido, preocupação, lama, umidade, os lábios
estão ressecados. A voz oscila. O banheiro o convida e os segundos cirandam com
ela. O segundo abraço. Apertado e duradouro como qualquer sofrimento. As
lágrimas já não se contêm. Caem. A água é da saudade, da culpa, da tristeza.
Afastam-se, mas como não havia jeito, já estão de mãos dadas outra vez. Só que
longe. Mais ou menos um metro de distância. Palavras ping, palavras pong. O
velho Malboro é acariciado, aceso, consumido e jogado fora.
O terceiro abraço,
capaz de dizer tudo ainda que não havia sido dito. Ele finalmente, conseguia
dormir em paz. Ela por sua vez, podia extravasar todas as gotas que restavam e
que somente aquele coração podia compreender, mesmo com todas suas fissuras e
faixas. Os anjos dizem amém. Dormem. O alarme do que é real despertam-nos. A
árvore, o mar, a piscina, já não estavam lá. Nunca estiveram. Ela presenteia os
olhos com as joias que mais lhe causavam dor a ausência, o par de contas negras
cor de trovão. Aquela linha côncava, descendente era única e impossível de se
encontrar num outro templo. A transação de pulsos pelos nervos na pelo, sob
tecido e eriçar. No fim, tudo é respiração.
A cena do filme triste. O passarinho molhado pousado no fio. Um par de tênis é calçado. Uma estrelinha amarela. Um de olhares é colocado em close. O quinto abraço da incerteza. O elevador pára. A luz no corredor. O ímpeto de segurar. A despedida. A corrida para a janela faz barulho no teto da senhora que mora embaixo. O barulho distante na porta. Cruza-se a rua como quem tem os pés voltados para trás. Não olha. Como é ofegante a espera. A lembrança da Ofélia. O oceano demoraria demais. Luz verde. Luz vermelha. Luz azul brilhante que triunfa pela avenida que abre espaço só para ela. Para eles. Queria dizer que sente falta do olhar-pássaro que havia criado por aquele tempo, mesmo que à força. Calou-se, enquanto ela desaparecia.
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