18 de outubro de 2012

Trajetória de inebrios. [ou uma hora de inspirações]

Ritmo. Respiração. Um compasso para manter uma composição minimalista para um percurso. Um, dois, três, lufar. Um, dois, três, lufar. É isso. Continuar. Hoje, as pernas não doeram, nem queimaram.
Muitos passos, barracas amontoadas e desesperadas. Muitas cores, gente. Só o que é realmente capturado é muito pouco para se relatar. No ir e no voltar, ficou tocada com a imagem de dois menininhos em pontos distintos daquele mesmo espaço, que provavelmente, nunca trocaram brinquedos, gritos ou palavras antes. Eles cavavam dois pequenos buracos com uma raiva cega... Uma agressividade que talvez, lhes causasse um certo prazer. Ou talvez, fosse só um alívio. O fato é que quase urravam, em uma atitude diretiva, devido à dificuldade do peso da terra e da água quando juntos. Guardou aquela cena para tentar reproduzir depois.
No início da manhã, outra partitura de movimento já havia lhe roubado alguns segundos de atenção. A frase “Mas por hoje, ficamos por aqui.” Ela suspira, senta-se quase chorando. Bebe os dois ou três goles de água que restam no copo meio vazio. Hidrata. Levanta. Dá quatro passos até a mesinha. Apoia o copo lá. Mais uns cinco passos. Dois beijinhos, um “até” e alguns passos a mais. Arriscaria uns dezessete, dezoito, até a porta de saída da sala e de entrada pra labuta do dia. E seus pensamentos vão assentando-se, assentando-se... Hora de seguir.
Mas continuando, o ar ia ficndo escasso. O ritmo mudara. Viu o Andy Warhol com seu cabelo loiro como quem projeta uma onda. Meio Niemeyer. Poderia voltar a ser um corte de sucesso. "O que quer hoje?” “Quero mudar, fazer algo assim, com umas ondas, sabe? A la Niemeyer!” Sorriu e continuou. Percebeu a águaa regenerando e querendo dizer-lhe algo. Pensou em Iemanjá, seu rosto sereno e poderoso abrigava uma expressão tristonha. Quis lhe perguntar o que era, mas recebeu outra indagação como resposta “Como ele está?” Não está bem. Nada bem. Entre um vômito por dentro e outro por fora. Precisava respeitar sua antítese-escolha. Ou porra nenhuma. Queria vê-lo. Precisava acarinhá-lo e sabia disso. Não para lhe fazer bem ou com algum interesse em passar por cima da sua decisão. Mas só para tocá-lo com carinho mesmo. Tranqulidade. A calma que é difícil manter e que eles detiveram por tantas horas juntos.
Pensou em saltar de paraquedas. Virar pássaro por alguns segundos na vida. Correu o máximo que podia e assim, podia sentir seu coração almejando sair pela boca. Sentiu a baba grossa em sua boca como ele havia lhe narrado. Pensou na saliva dos dois quando misturadas, em alquimia e na água salgada. Sua perna direita está um pouco debilitada. Ignora. Anda descalça pelas pedras e sujeira e vê Iemanjá, uma vez mais, em sua cabeça. O que tudo isso quer dizer? Talvez nada. Pode ser só um sonho ou alucinação fruto do seu fígado maltratado por um fim de semana de atropelos. Consegue parar de pensar um pouco. Lava seus pés e quando gira a chave e coloca o pé direito em sua casca, estanca. Ouve o despertador tocando, Só que o despertador crescente dele.

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