27 de setembro de 2012

Catete às Quintas.

Grades que querem te segurar
Subi.
As escadas estavam difíceis
Princesa.
Porta entreaberta e
convidativa ao exercício do samba-funkeado
(uma dessas derivações moderninhas de como mostrar-se em molejo)
Rampas para deficientes. Brincar com elas.
Uma esquina-curva do século XIX.
Cachorro no meio dos sacos de lixo
em um poste qualquer.
Um bêbado esbraveja. Vai para o meio da rua.
Os carros desviam.
Todos os transeuntes olham para o mesmo ponto.
Seguir.
Os andaimes.
Um cabelo extraordinário de cachos-sim, cachos-não-dourados.
Era um homem.
Uma moto. Desejei a vespa que ali, não estava.
Me vi numa estrada ensolarada.
Tropecei numa pedra. Voltei.
Corri.
Os andaimes impedem a passagem pela calçada estrangulada.
Arrisca-se na beira
da rua.
Um homem diz, com três passos de distância,
“linda...”
As grades pretas.
Chegada.
Saída. Busco um café.
Mãos de carvão. Água com sabão.
“É pra viagem.”
Copo de plástico. Não tem troco.
“Já volto.” Bonita a confiança de quem tem pouco.
Super. Biscoito. Trocado.
“Aqui. Obrigada!”
O metal foi recebido nas mãos com tempero pra galinha morta.
Um sorriso amarelado. Verdadeiro.
Sala. As pessoas papeiam em um tom alto.
“Intimidade é uma merda!”

25 de setembro de 2012

Dias Sem Freio.

Seis horas da manhã
a menina estanca
o próprio sono dança
pra bem longe
encosta no lençol novamente
pula assustada e com palpitação
coloca a casa dentro da mochila
Banana e vitamina c
sobe os degraus altos e mal ajustados
derrama moedas em mãos sujas
anuncia-se. Sobe para o dez na caixa
Transborda-se e desata alguns nós
transpõe a porta com outros
“Bom dia. Rua Cosme Velho.”
Já passou. Despeja-se na rua.
Esbarra e por isso, encontra-se com alguém
Outra caixa. Gole d´água.
Escolhe um pedaço.
Absorve o conteúdo.
Grécia. Franjas dos orixás.
Tespe. Mascarar-se. Sagrado. Profano.
Sartori, Streller, Moretti, Lecoq
Commedie di Maschera.
Duas xícaras de café.
Quase transborda-se de novo
Encontre alguém que te diga
"keep walking”
O sorriso mascarado da cabeça triste.
Desejo por um corpo que ainda não tem
(mas pode ter)
Dois amos. Servir é circo e pão.
Força e habilidade também.
Conversa. O exercício do ouvir mais.
Bolo de milho com geleia de cassis.
É francês!
Delicieux! Gromelô. Dario Fo.
Desculpa-se.
Desce por outra caixa.
Vertical. Entra em outra horizontal.
Imagem distorcida por 40 graus.
Engole um refrigerante zero e um yakisoba de legumes que fica no estômago.
Cadeira. Desapontamento por seu atraso ter sido menor que o do ensinador.
Amigo. Óculos rosa. Banheiro. Água.
Aula. Surpreender-se.
São três horas, tardinha.
Carona na estrada. Para um jardim verde.
“No hay doctor!”. Engana-se.
Raiva. Raiva. Acalmar-se...
Não era pra ir.
Não era pra moldura estar pronta.
Não era pra encontrar o bolo com adoçante.
Arrasta-se. A gravidade está mais potente.
O energético dá asas. Cara feia.
Saco cheio. Passar dos limites
também é ir embora.
Discussão.
Pra todo pessoal,
(tenho impressão que alguém já disse isso)
adeus!
Mas o travesseiro ainda está longe.
Cansaço. Espreguiçar-se.
Parar de contar na trigésima quarta vez.
Querer sofá.
Querer um sofá.
Roncar.
Zzz...

17 de setembro de 2012

Ingredientes Pra Eu Desandar

O excesso de pimenta na comida
- Não precisa se desculpar por isso –
É transbordamento de tesão
O que é tesão?
Quando a boca lateja,
Os olhos ardem,
A face cora, nada Coralina
E a água entra
Evaporando o incêndio interno.
Essa sensação das moléculas
aquietando o vermelho ardor
é desejo saciado. A reclamação ouvida, computada e respondida.

Se há erro, está contido na pressa
da necessidade de apagar o rojão.
Deixa queimar...
Ser a dona de casa é o carinho que faltava
Finalmente, quando capaz de dizer
a sinuosidade do modo como mistura cada parte
a precisão que a lâmina te atribui
o teste da lambida do queijo
a atenção a tudo
a habilidade de escolher e errar e acertar...
a satisfação do estar pronto
As reclamações...
Tudo.
Me faz perder o ponto.
Desando.

14 de setembro de 2012

Seba Acinzentada.

Cinza
Enjoada
Emaranhada
Arame farpado
Ferida molhada
Casca
Estou cebola
Retiradas as camadas
Está/É nada
Superfícies:
A fala não disse
O olho vomitou
Os pensamentos estrangularam
A memória mostrou-se (deu rasteira)
O corpo se arrastou
O espelho refletiu
O bolo alimentar não saiu
A fome desapareceu

O grau aumentou
Dias de merda são tão extensos
como nem pode supor nossa vil filosofia.

10 de setembro de 2012

sem título

(...)aliás, como você, quero tanto uma imagem.
quero trepar, gozar, beber, me encaretar e arriscar. 
Quero ficar calma, colocar sal, rir e chorar. Sei lá... só sei o que quero. 
Porque o não querer, não acontece, entende? 
O não querer, é a volta que já não existe no nosso caso.(...)

Só um Pedaço de Pensamento.

Hoje o pincéu acordou cinza
A frase não foi dita
O café estava azedo e amargo

As roupas estavam sujas e desajustadas
E sua pele manchada

A vontade de ir era maior do que a de ficar.

O peito se espremeu e oscilou. Odiou.

Revelar-se é a parte em que a ferida é tocada
e cuspida. Pungida.

4 de setembro de 2012

Para Ele Sumir.

Menino dos olhos daquela,
pra quê beijar alguém com piedade?
Um beijo desse tem sabor de gelo
E nada mais.

Se despeça, suma de vez.
Pois se dois corpos enquadram-se
são como dois ímãs que tentam unir-se.
É repelente meu órgão do seu...

Beba a aguardente que você comprou
Um trago por dia, ou dois, pode esquentar uma alma fria
As mãos que te tocam não se desmancham, não é?
Como sol e chocolate. Bate. Contraste. O inverso.

Possa esquecer o futuro, já antigo
E dê boas vindas para o melhor momento.
É ser alegre e ser triste, se é que coexiste
tal oposição geométrica.