9 de junho de 2012

Nobreza [Inspirações em Dia de Chuva]

Nas madrugadas, a água parece mais fria
A mão não esquenta nem por um decreto
Se eu fosse rei decretaria
manter a temperatura estável e morna
das mãos, dos pés e daquele que palpita.
Se eu fosse rei. Ah... se eu fosse rei
Decretaria correspondência, amabilidade,
igualdade, e acima de tudo,
que a verdade fosse doce.
Sempre doce causando ao hormônio
mais displicente uma paz impossível de pensar
àqueles que não são capazes de pensar em verdade
através da verossimilhança, e não só da fatalidade.

Decretaria o caos disforme que assemelha as formas
mais opostas, e aproximam-nas
E as unem de maneira que só os humanos
são capazes de fazer, com paixão.
Seria um rei humano, por certo.
Decretaria o teletransporte e que eu,
fosse assim, exatamente como sou, eu.
E quem seria eu? Quem sou?

A busca pelo ser pode ser um atirar-se
num abismo mais profundo que a abertura
mais dolorida.
Em dias frios, observa-se como se não morasse no peito.
O mesmo peito de rei, ou plebe, que sempre te segurou
Ou melhor, não te derrubou para frente
mas o manteve de pé.

Sou o rei do peito congelado,
doado a quem quer que fosse
e quebrado pelo tempo.
Correr da vontade é negar um cobertor
quando a temperatura despenca sobre os seus dedos.
Mas ainda sim, sou o rei que segura o fervor
da benevolência ao outro, ou mesmo a você.
Decretaria o melhor, ainda que não o compreendessem.
Ou pesaria e compensaria o entendimento
com a nobreza do jovem cego atirador.

1 de junho de 2012

Resposta Ao Desejo Do Victor

Os seus desejos me tocam e eu derramo
E se digo que amo é porque sinto
Só não o explico por não ter como colocar em falas
O que não pode ser dito.
Prefiro então, olhar amor, tocar amor, ser amor
com os que não mereceram, com os que querem,
com os que precisam,
com os que pedirão.
E se o conveniente for dizer não, direi.
E assim sendo, machucarei alguns, verdade.
Serei magoada também.
Quanto às forças para o não desesperar-se, não prometerei
Mas juro deixar o tempo correr e curar cada dor.

Lamento os amigos que não tive
Mas comemoro cada dia ao lado daqueles pingados que realmente estimo e me estima.
O resto que passa pelas estradas e nem olham pra trás.
ou os que olham com olhos de amizade insincera, deixo passar.
Chorar a solidão faz parte do caminho
E limpar a alma com soluços pode ajudar muitas vezes
Não deixar nada acumular
Porque o excesso, o acúmulo, esse sim é o mal do século.

Confesso que o não crer, às vezes, é o que me faz crescer.
Mas também, o que me leva ao chão da minha sala de estar
Mas tento ter fé em mim e no homem todas as noites, ao me deitar
E penso, exito, sigo a pensar
Até imaginar algumas vezes,
Pra acompanhar minha existência, amar-me.

Saudades da juventude que minha alma esqueceu de ter
Mas agradecer pelo que pude ajudar por conta dessa mesma falha,
me faz satisfeita.
A velhice, às vezes, me assusta.
A minha e a dos meus.
Mas se remar não vai adiantar
e só exaurir seus braços, aprecie a vista do céu. Tão eterno...
Ainda não aprendi a agradecer cada ruga.
Mas cada experiência sim. Obrigada.

A grande e dolorosa descoberta foi que é preciso chorar.
É uma dessas coisas que só se descobre na carne
Então, deixa escorrer como escorrerá
O importante é não esquecer de abrir as janelas no fim
Para que o rosto inchado não enclausure e se torne desespero.
A dor pode ser bonita e produtiva
Como também pode deixar marcas cujas cicatrizes serão irremediáveis.

Aprender a olhar o outro talvez, seja uma das tarefas mais difíceis.
Não só olhar, mas olhar e verde verdade. sem ser falso.
E contemplar o que é belo realmente sem julgamentos
E espantar-se com o que é feio e fétido.
E deixar bater a compaixão que é o que te torna mais forte
e raro no fim das contas.
Tento não esquecer de sorrir e manter o sorriso só porque acordei feliz,
ou alguma borboleta posou em mim, ou ouvi a música que tanto me faz bem.

O dinheiro traz felicidade, sim. Ou melhor,
ajuda muito a alcançá-la muitas vezes.
O medo de que ele suma ou fuja, pode interferir nos seus sonhos.
Ao menos, nos planos que há tempos fiz.
Mas a percepção de que a vida é móvel, em ciclo, uma roda desperta,
te acalma e te faz repensar.
E eu também espero que o que te faça agir seja a melhor ideia.
Não a ideia última, mas a que mais perdurou.

O exercício de libertar-se dos maus sentimentos
é mais que necessário.
Engolir ou vomitar os bolos a seco, antes engolidos, é fundamental.
E às vezes, fujo disso, eu sei.
Mas uma hora faço-o, para não sufocar demais
E que depois de tudo isso, o maior espaço que fique seja preenchido por amor.
O amor mais puro como o de muitas mães e pais por seus
esperados e inesperados filhos.
Também o amor que te tira do ar. Inflamado.
Que te deixa pouco à vontade. que te torna até idiota.
Poder curtir os clichês do relacionamento é essencial
e exercitar o queimar dos olhos com a pessoa que escolher também.
E se não resta emoção, esqueça a razão e aprenda a desapegar.
O recomeçar pode ser gostoso, ou não.
O perdão e o arrependimento também devem encontrar o momento certo
para revelarem-se, eu sei.

Talvez não saiba de nada. Talvez.
Mas sei o quanto é bom existir no mundo
em que você também nasceu.
Ter tido a graça do acaso que nos esbarrou
e nos permitiu perceber-nos e tocar um ao outro.
Pois sem tudo isso, o amor, o dinheiro, o riso, o choro,
continuariam valendo, claro.
Porém, menos.
Bem menos do que vale
por você estar.